28.4.08
Tal Qual Heavens Above
Estava emersa em trabalho. Corrigia compenetradamente gráficos e mais gráficos representando informação hipercondensada, imperceptível a qualquer outro cérebro não treinado na fusão mental da Física com a Matemática. Prazo a cumprir à risca. Toca o telefone, rosno entre dentes irritada pela interrupção. Vejo o teu id no visor, sorrio de imediato. Atendo. Tua voz jubilante implora que corra até à janela. Corro. A chamada cai. Pergunto-me a qual das janelas te referirias? Opto por tentar todas. Ao chegar à última perspectiva visual possível percebo que seria esta a que certamente te referiras... Toca novamente o telefone, reaparece o teu id, atendo e ambos assistimos aquele duplo arco-iris!
CASA
Vem (disse-me ele), vamos passear a pé!
Fomos. Naquela rua parou defronte a uma casa (que reconheci de imediato).
Queria mostrar-te esta casa. Sempre que passo aqui fico a olhar para ela. Gosto muito desta casa. Está desabitada. Gostas...?
Sorri-lhe eternecida, com os olhos e com os lábios.
Gosto, gosto mesmo muito até porque conheço bem o interior desta casa...(respondi-lhe, lembrando outrora)
Olhou-me curioso.
Esta casa é-me aparentada e desde miúda que aqui passei muitas e belíssimas horas. Tens bom gosto... sabes que o pátio interior, como que de uma Villa Italiana, é ainda mais lindo do que esta fachada...?
Olhava-me estupefacto mas esclareci:
Lamentavelmente, desde que essa parente faleceu nunca mais os seus herdeiros se entenderam e nunca mais esta casa foi habitada (murmurei).
Ainda atónito agarrou-me no braço e perguntou-me:
E o que é que tu estás à espera para lhes resolveres este embróglio? Poderíamos então viver juntos aqui!
Rimos os dois. Mas apenas por breves instantes, pois essa sua pergunta atingiu-me como uma dupla flecha:
- Retive que pensou/admitia vivermos juntos
- Relembrei Outrém
(olhei-o em silêncio)
Fronteira transposta, não quebrou o olhar. Seguimos caminho, lado a lado. Eu ainda em silêncio.
Fomos. Naquela rua parou defronte a uma casa (que reconheci de imediato).
Queria mostrar-te esta casa. Sempre que passo aqui fico a olhar para ela. Gosto muito desta casa. Está desabitada. Gostas...?
Sorri-lhe eternecida, com os olhos e com os lábios.
Gosto, gosto mesmo muito até porque conheço bem o interior desta casa...(respondi-lhe, lembrando outrora)
Olhou-me curioso.
Esta casa é-me aparentada e desde miúda que aqui passei muitas e belíssimas horas. Tens bom gosto... sabes que o pátio interior, como que de uma Villa Italiana, é ainda mais lindo do que esta fachada...?
Olhava-me estupefacto mas esclareci:
Lamentavelmente, desde que essa parente faleceu nunca mais os seus herdeiros se entenderam e nunca mais esta casa foi habitada (murmurei).
Ainda atónito agarrou-me no braço e perguntou-me:
E o que é que tu estás à espera para lhes resolveres este embróglio? Poderíamos então viver juntos aqui!
Rimos os dois. Mas apenas por breves instantes, pois essa sua pergunta atingiu-me como uma dupla flecha:
- Retive que pensou/admitia vivermos juntos
- Relembrei Outrém
(olhei-o em silêncio)
Fronteira transposta, não quebrou o olhar. Seguimos caminho, lado a lado. Eu ainda em silêncio.
Labels: Déjà vu and now what?
Ludwig & Sissi
Historical evocation of Ludwig, king of Bavaria, from his crowning in 1864 until his death in 1886, as a romantic hero. Fan of Richard Wagner, betrayed by him, in love with his cousin Elisabeth of Austria, abandonned by her, tormented by his homosexuality, he will little by little slip towards madness.
Labels: warning bells
25.4.08
22.4.08
tirou-me as palavras da boca:
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
~ Fernando Pessoa
Labels: via PF
TANTRA YOGA
Tomei nota deste novo contacto, fruto de con(v)ivências afins e agora por prática de (des)Hatha Yoga e Raja Yoga.
Marquei uma aula-teste mas desencontros vários e cruzamento de agendas hiperpreenchidas explicam 3 semanas de vãs tentativas. Até que chegou o dia.
Cheguei mais cedo. Esperei. Esperei imenso tempo também porque me enganara na campaínha...
A porta abriu-se por fim. Fui recebida com mil sorrisos e uma má notícia: ainda não seria desta. Explicações múltiplas mas a minha cara deve ter espelhado o que pensara...
Passa um vulto (com rosto) nos bastidores da conversa que imperava na linha da frente. Num ápice entreolhamo-nos.
Continua a conversa na linha da frente, as múltiplas explicações, as tentativas de reajustamento de datas, "mas eu não estava mais aí". O meu rosto estampava apenas o desapontamento pela não-aula.
O vulto e eu entreolhavamo-nos ainda.
Sua voz... e de imediato todas as outras vozes se calam. Diz-me: Eu dou-lhe uma aula. Agora.
Pensei: problem solved!
Rostos atónitos. Abrem-lhe alas e seguem-nos silenciosamente em fila indiana.
"Fui poisar os fardos e trocar de roupagem". De imediato todos os outros se apressaram para os vestiários e esperaram no corredor pelo início da aula. Abriu a porta. De novo entreolhamo-nos. Passei por entre todos para entrar na sala. Fechou a porta logo atrás de mim. Para espanto de todos os presentes ninguém mais poderia entrar! Estranhei... mas não mostrei qualquer receio. Não sentia qualquer medo deste vulto (agora um Ser) que me entreolhara.(começou a aula)
Falavamos agora pausadamente e em Inglês.
Passou 1h? 2h? Milénios? Quanto tempo?
Olhos nos Olhos alternando Mente com Mente. Respirando corporalmente, profunda e intensamente.
Passou 1h? 2h? Milénios? Quanto tempo?
(acabou a aula)
No final, cada um saiu por uma porta diferente. E não o voltei a ver. No corredor "aguardavam ainda o início da aula"...
Decidida por este Professor, fui à Recepção tratar da papelada para a inscrição nas suas aulas. Preenchi os formulários e quando tive de escolher os horários perguntei quais eram especificamente as suas aulas. Silêncio de novo na sala.
A Recepcionista levantou os olhos e disse-me:
Ainda não percebeu o que se passou aqui hoje, pois não? Ele é um Monge Indiano de Tantra Yoga, o único neste país, "não dá aulas". Nenhum de nós neste Centro conseguiu alguma vez ter uma aula com Ele, e por isso seguimos logo atrás de si até à sala! Em vão. Foi uma aula só para si.
Sorriu-me e baixou os olhos.
Fiquei perplexa. Relembrei o desenrolar de todos os ensinamentos que recebera no interior daquela sala... e o previlégio. Disse à Recepcionista que nesse caso ser-me-ia impossível decidir por "qualquer outro" Professor de Tantra Yoga. Não levantou mais os olhos mas disse-me:
Compreendo e Saiba Que Em Seu Lugar Faria O Mesmo.
Foi assim a minha primeira e única aula de Tantra Yoga.
Marquei uma aula-teste mas desencontros vários e cruzamento de agendas hiperpreenchidas explicam 3 semanas de vãs tentativas. Até que chegou o dia.
Cheguei mais cedo. Esperei. Esperei imenso tempo também porque me enganara na campaínha...
A porta abriu-se por fim. Fui recebida com mil sorrisos e uma má notícia: ainda não seria desta. Explicações múltiplas mas a minha cara deve ter espelhado o que pensara...
Passa um vulto (com rosto) nos bastidores da conversa que imperava na linha da frente. Num ápice entreolhamo-nos.
Continua a conversa na linha da frente, as múltiplas explicações, as tentativas de reajustamento de datas, "mas eu não estava mais aí". O meu rosto estampava apenas o desapontamento pela não-aula.
O vulto e eu entreolhavamo-nos ainda.
Sua voz... e de imediato todas as outras vozes se calam. Diz-me: Eu dou-lhe uma aula. Agora.
Pensei: problem solved!
Rostos atónitos. Abrem-lhe alas e seguem-nos silenciosamente em fila indiana.
"Fui poisar os fardos e trocar de roupagem". De imediato todos os outros se apressaram para os vestiários e esperaram no corredor pelo início da aula. Abriu a porta. De novo entreolhamo-nos. Passei por entre todos para entrar na sala. Fechou a porta logo atrás de mim. Para espanto de todos os presentes ninguém mais poderia entrar! Estranhei... mas não mostrei qualquer receio. Não sentia qualquer medo deste vulto (agora um Ser) que me entreolhara.(começou a aula)
Falavamos agora pausadamente e em Inglês.
Passou 1h? 2h? Milénios? Quanto tempo?
Olhos nos Olhos alternando Mente com Mente. Respirando corporalmente, profunda e intensamente.
Passou 1h? 2h? Milénios? Quanto tempo?
(acabou a aula)
No final, cada um saiu por uma porta diferente. E não o voltei a ver. No corredor "aguardavam ainda o início da aula"...
Decidida por este Professor, fui à Recepção tratar da papelada para a inscrição nas suas aulas. Preenchi os formulários e quando tive de escolher os horários perguntei quais eram especificamente as suas aulas. Silêncio de novo na sala.
A Recepcionista levantou os olhos e disse-me:
Ainda não percebeu o que se passou aqui hoje, pois não? Ele é um Monge Indiano de Tantra Yoga, o único neste país, "não dá aulas". Nenhum de nós neste Centro conseguiu alguma vez ter uma aula com Ele, e por isso seguimos logo atrás de si até à sala! Em vão. Foi uma aula só para si.
Sorriu-me e baixou os olhos.
Fiquei perplexa. Relembrei o desenrolar de todos os ensinamentos que recebera no interior daquela sala... e o previlégio. Disse à Recepcionista que nesse caso ser-me-ia impossível decidir por "qualquer outro" Professor de Tantra Yoga. Não levantou mais os olhos mas disse-me:
Compreendo e Saiba Que Em Seu Lugar Faria O Mesmo.
Foi assim a minha primeira e única aula de Tantra Yoga.
Soul Cleaning
A new broom sweeps clean, but the old broom knows the corners. The newest fads in personal growth may seem to produce quick results. But it is the time-tested traditions that reach the deepest corners of our souls.
16.4.08
o abraço cósmico
Frequentavamos os cafés preferidos de ambos.
Reparavamos SEMPRE um no outro.
Cruzavamos o olhar mas mantinhamos um respeitoso silêncio.
R e c o n h e c í a m o-nos.
Reparavamos SEMPRE um no outro.
Cruzavamos o olhar mas mantinhamos um respeitoso silêncio.
R e c o n h e c í a m o-nos.
Passámos alguns meses nisto. No último dia do ano Outrém esperava por mim num desses cafés. Agendaramos um duelo mas marcaramos encontro prévio pois iríamos juntos até ao destino... Chego atrazada e irritada por o ter feito esperar. Entro apressada no café e não tenho tempo para pensar mais no assunto: estavam os dois sentados à mesa a conversar: Outrém e o Outro.
Fui direita ao balcão para me restabelecer da surpresa. Não queria acreditar na coincidência de já se conhecerem...
Reflecti um pouco mas logo cheguei à conclusão que nesta cidade "tão pequenina" ESTES dois seres só podiam (já) ter-se cruzado! Trilhos semelhantes em terras de opções limitadas certamente facilitava encontros afins.
Respirei fundo e dirigi-me enfim para a mesa onde Outrém (pasmado por me ver ao balcão) ainda me esperava. Beijei-o saudosa e tão feliz por nos voltarmos a ver. Furioso pela espera, desejoso de partir. Pedi-lhe desculpa pelo atrazo e acedeu a esperar um pouco mais para que eu pudesse tomar um café (para a viagem). Bem Haja!
Apresentou-me o Outro. Nem ouvi o seu nome.
Eu e o Outro ambos sabíamos que este era o momento em que a apresentação se formalizara. Mal trocámos palavra. Outrém falou pelos três e continuaram depois a falar os dois. Ouvi atentamente o diálogo entre estes dois seres, lembrando ainda a tamanha coincidência. Já quase no final interrompi-os corrigindo-lhes algo verbalizado e em prol do que acredito ser mais exacto. Olhos nos olhos, o Outro e eu comunicavamos enfim!
Partimos. Outrém e eu.
Mas o Outro estava ainda presente em (meu) pensamento. Falamos sobre isso durante a viagem e chegados ao destino o Outro insistia em caminhar entre mim e Outrém. Tirei-o do (meu) pensamento. Estava a mais entre mim e Outrém.
Passados uns meses e no seguimento de outras coincidências, reencontramo-nos. No café do costume. Já chorara então o que tivera de chorar por Outrém (agora a maior das decepções kármicas) e reencontrar o Outro, que Outrém me apresentara, Simply Made My Day. Soube mais tarde que fôra mútuo. Não nos separámos mais. Seria impossível (?). Somos da mesma Têmpora! (disse-mo pela noite dentro)(em voz velada)(e as lágrimas caíram-me).
Fui direita ao balcão para me restabelecer da surpresa. Não queria acreditar na coincidência de já se conhecerem...
Reflecti um pouco mas logo cheguei à conclusão que nesta cidade "tão pequenina" ESTES dois seres só podiam (já) ter-se cruzado! Trilhos semelhantes em terras de opções limitadas certamente facilitava encontros afins.
Respirei fundo e dirigi-me enfim para a mesa onde Outrém (pasmado por me ver ao balcão) ainda me esperava. Beijei-o saudosa e tão feliz por nos voltarmos a ver. Furioso pela espera, desejoso de partir. Pedi-lhe desculpa pelo atrazo e acedeu a esperar um pouco mais para que eu pudesse tomar um café (para a viagem). Bem Haja!
Apresentou-me o Outro. Nem ouvi o seu nome.
Eu e o Outro ambos sabíamos que este era o momento em que a apresentação se formalizara. Mal trocámos palavra. Outrém falou pelos três e continuaram depois a falar os dois. Ouvi atentamente o diálogo entre estes dois seres, lembrando ainda a tamanha coincidência. Já quase no final interrompi-os corrigindo-lhes algo verbalizado e em prol do que acredito ser mais exacto. Olhos nos olhos, o Outro e eu comunicavamos enfim!
Partimos. Outrém e eu.
Mas o Outro estava ainda presente em (meu) pensamento. Falamos sobre isso durante a viagem e chegados ao destino o Outro insistia em caminhar entre mim e Outrém. Tirei-o do (meu) pensamento. Estava a mais entre mim e Outrém.
Passados uns meses e no seguimento de outras coincidências, reencontramo-nos. No café do costume. Já chorara então o que tivera de chorar por Outrém (agora a maior das decepções kármicas) e reencontrar o Outro, que Outrém me apresentara, Simply Made My Day. Soube mais tarde que fôra mútuo. Não nos separámos mais. Seria impossível (?). Somos da mesma Têmpora! (disse-mo pela noite dentro)(em voz velada)(e as lágrimas caíram-me).
Profunda Empatia: Amantes Impossíveis. E entre um Jardim de Inverno e um Portal Abrasonado, selámos a nossa fraternidade com um esplendoroso Abraço Cósmico.
"como irmões"
Sentados lado a lado, partilhando uma reflexão colectiva, de olhos fechados, e ainda assim apetecer-me dar-te mais um beijinho na face...
E depois descermos de carro a Rua de Dom Vasco (que tem pelo menos 45º de declive) sem mãos ao volante, ambos rindo bem alto e com os braços esticados pelas janelas abertas, "tipo aviões"...
E depois descermos de carro a Rua de Dom Vasco (que tem pelo menos 45º de declive) sem mãos ao volante, ambos rindo bem alto e com os braços esticados pelas janelas abertas, "tipo aviões"...
11.4.08
coisas
Esteve um dia bera, de chuva... (disse-lhe eu de uma mesa para outra). Olhando-me diz:
Hoje não vai chover mais, foi apenas a chuva que você (nos) trouxe de Londres. Nunca se esqueça que este é o país do Sol!
Continuou a ler e eu a escrever. Passado mais um bocado levantou-se da mesa. Despediu-se. Pagou ao balcão a sua conta (descobri depois que a minha também) e saiu.
Voltei-me então e espreitei a porta de saída: Chovia a potes.
Hoje não vai chover mais, foi apenas a chuva que você (nos) trouxe de Londres. Nunca se esqueça que este é o país do Sol!
Continuou a ler e eu a escrever. Passado mais um bocado levantou-se da mesa. Despediu-se. Pagou ao balcão a sua conta (descobri depois que a minha também) e saiu.
Voltei-me então e espreitei a porta de saída: Chovia a potes.
Mein Berliner
Era, e ainda demonstra ser, um homem que pensa (e diz) coisas muito inteligentes.
Tinhamos uma relação meramente intelectual, at an higher mental plane, onde se pode viver em felicidade contemplativa.
E era esse seu mundo mental (e não espiritual, físico ou emocional) que me fascinara, me desafiava (cerebralmente), e me despertava (infantilmente) a curiosidade.
A ponto de durante aqueles anos nunca questionar porquê que estavamos juntos. Se algum dia (me) tivesse de facto questionado, teria tudo acabado nesse mesmo instante (julgo).
Consequentemente, vivemos esse relacionamento mental, na maior das indiferenças pelos mecanismos da vida prática. Até que um dia a relação foi testada a esse nível, e foi quando percebi que afinal nada funcionava ou nos poderia manter unidos sequer.
Nunca lamentei essa relação, nem alguma vez a classifiquei como "tempo perdido". Até porque ainda hoje, sempre que perante esse seu mundo mental, resta-me sempre calar, e ouvir. E algo me diz que assim sempre será. E que nunca me deixará de impressionar. Intelectualmente.
Não o amei (sempre o soubera), mas acreditei que o que havia entre nós bastaria. A vida demonstrou-me na prática que assim nunca teria sido possível. Pelo que hoje acredito muito que deverá valer a pena... "isso do amor"...
Desejo-Lhe toda a Boa Sorte (que precisa e merece).
Para mim ficou gravado como uma memória "a preto e branco" do poder da palavra expressa.
Em puro "Wim Wenders Berliner style".
Londres, 29 de Julho de 2005
Tinhamos uma relação meramente intelectual, at an higher mental plane, onde se pode viver em felicidade contemplativa.
E era esse seu mundo mental (e não espiritual, físico ou emocional) que me fascinara, me desafiava (cerebralmente), e me despertava (infantilmente) a curiosidade.
A ponto de durante aqueles anos nunca questionar porquê que estavamos juntos. Se algum dia (me) tivesse de facto questionado, teria tudo acabado nesse mesmo instante (julgo).
Consequentemente, vivemos esse relacionamento mental, na maior das indiferenças pelos mecanismos da vida prática. Até que um dia a relação foi testada a esse nível, e foi quando percebi que afinal nada funcionava ou nos poderia manter unidos sequer.
Nunca lamentei essa relação, nem alguma vez a classifiquei como "tempo perdido". Até porque ainda hoje, sempre que perante esse seu mundo mental, resta-me sempre calar, e ouvir. E algo me diz que assim sempre será. E que nunca me deixará de impressionar. Intelectualmente.
Não o amei (sempre o soubera), mas acreditei que o que havia entre nós bastaria. A vida demonstrou-me na prática que assim nunca teria sido possível. Pelo que hoje acredito muito que deverá valer a pena... "isso do amor"...
Desejo-Lhe toda a Boa Sorte (que precisa e merece).
Para mim ficou gravado como uma memória "a preto e branco" do poder da palavra expressa.
Em puro "Wim Wenders Berliner style".
Londres, 29 de Julho de 2005
8.4.08
"o maltrapilho"
Final de tarde soalheira. Levantei-me de repente e decidi sair do eléctrico na paragem seguinte: Calhariz.
Fiquei a observar a Basílica da Estrela bafejada por tons alaranjados e avistada do topo da Calçada do Combro. Ainda tinha tempo: olhei em redor, 360º, sem saber por onde me apeteceria seguir... de óculos escuros.
No Largo do Camões passo por alguém que exclama:
"Com um andar assim, ou não é de cá ou julga-se alguém importante".
Sorri(-lhe) de soslaio e de olhos postos no chão mas tive de lhe ouvir ainda:
"Estou certo que pela forma como se passeia deve ser alguém importante".
Não resisti. Parei e fiz-lhe uma vénia para o deixar passar. Percebeu que fiz questão em que caminhasse à minha frente e que me guiasse o caminho (esclareci). Riso aberto e retribuiu-me a vénia. Atropelos vários dos transeuntes no passeio apertado por nossa mis en scène. Tirei os óculos escuros, olhámo-nos olhos nos olhos (os seus eram lindos, expressivos) e eu disse-lhe:
"Não sei porque diz, pensa e vê coisas em mim que eu não sinto!"
Parou, surpreendido, e riu-se.
Seguimos pelo passeio, lado a lado. Fiz questão que percebesse que agora caminhavamos juntos.
Teria quase setenta anos e carregava uma mala que parecia pesada. Convidou-me para tomar café - mas não na "Brasileira" (que não aprovava). Descemos o Chiado e algures tomamos o tal café. Falava (correctíssimamente) de tudo um pouco, o que desde logo me cativou. Contou-me a sua (extraordinária) história, que eu ouvia maravilhada. Abriu aquela senhora mala e foi tirando papeis e comprovativos vários. Estudou Direito em Pádua e mais tarde Medicina em Lisboa. Já reformado continuou a exercer voluntáriamente ambas as profissões em instituições de obra social. Escutava com enorme atenção uma vida repleta de acontecimentos nobres. Hoje, por ironia do destino e outras vicissitudes da vida, "vagabundeia maltrapilhamente" (dixit) enquanto espera justiça e restituição de seus terrenos no Guincho. Mostrou-me cópia das últimas deligências junto dos tribunais e outros documentos testemunhando seu desespero camarário.
De vez em quando olhava em volta registando os olhares atónitos de quem nos rodeava e interrompia para me dizer que nunca esperara que "alguém como eu" parasse na rua para lhe prestar atenção ou tão pouco para falar séria e atentamente sobre tudo o que já disseramos um ao outro. Respondi-lhe que ambos já tinhamos idade suficiente para sabermos que as aparências (de facto) iludem, e que quem (apenas) vê caras, naturalmente não vê corações...!
Sorriu-me muito satisfeito e continuamos a falar. Findo o café, voltamos a subir o Chiado soalheiro e as pessoas afastavam-se para nos deixar passar, entreolhando-se pelo "contraste social" que nossas vestimentas aparentavam...
Apeteceu-me responder a cada olhar perplexo ou inquisidor:
"Pois saibam vocemecezes que quem me acompanha não é "o maltrapilho" que aos vossos olhares comezinhos aparenta ser! É uma alma nobre, profundamente culta, e para vossa informação quiçà imensamente rico (assim vingue a justiça). Vêde para lá de sua excentricidade e encontreis vós mesmos tudo o que acabei de afirmar!"
Mas continuamos a subir calmamente o Chiado e os demais olhares continuaram intrigados. De acordo com as boas maneiras (de outrora), cedia-me o interior do passeio e passagem primeira. Ainda que sempre tão discreto, como ditam as regras, não pude deixar de reparar na sua extrema educação.
Acompanhou-me até São Carlos, onde eu iria assistir a mais um recital. Aprovou a minha escolha pois também conhecia a obra clássica. Pediu-me desculpa por não me poder fazer companhia "devido ao tardar da hora", disse-me piscando o olho mas apontando sua roupagem. Pisquei-lhe o olho e beijei-lhe a mão.
Silêncio entre os dois.
"Gostaria de a convidar para um dia destes partilharmos uma refeição..." (disse-me a quanto custo).
Delicadamente rabiscou um no. de telefone onde eu poderia sempre deixar resposta.
"É que é tão difícil encontrar pessoas com quem conversar longa e descontraídamente sobre tantos assuntos..."
Já em São Carlos, ouvi o recital relembrando deliciada todos os pormenores deste encontro humano e pensei: talvez um dia destes lhe telefone mesmo e porventura fará bem aos dois continuar a conversar.
Fiquei a observar a Basílica da Estrela bafejada por tons alaranjados e avistada do topo da Calçada do Combro. Ainda tinha tempo: olhei em redor, 360º, sem saber por onde me apeteceria seguir... de óculos escuros.
No Largo do Camões passo por alguém que exclama:
"Com um andar assim, ou não é de cá ou julga-se alguém importante".
Sorri(-lhe) de soslaio e de olhos postos no chão mas tive de lhe ouvir ainda:
"Estou certo que pela forma como se passeia deve ser alguém importante".
Não resisti. Parei e fiz-lhe uma vénia para o deixar passar. Percebeu que fiz questão em que caminhasse à minha frente e que me guiasse o caminho (esclareci). Riso aberto e retribuiu-me a vénia. Atropelos vários dos transeuntes no passeio apertado por nossa mis en scène. Tirei os óculos escuros, olhámo-nos olhos nos olhos (os seus eram lindos, expressivos) e eu disse-lhe:
"Não sei porque diz, pensa e vê coisas em mim que eu não sinto!"
Parou, surpreendido, e riu-se.
Seguimos pelo passeio, lado a lado. Fiz questão que percebesse que agora caminhavamos juntos.
Teria quase setenta anos e carregava uma mala que parecia pesada. Convidou-me para tomar café - mas não na "Brasileira" (que não aprovava). Descemos o Chiado e algures tomamos o tal café. Falava (correctíssimamente) de tudo um pouco, o que desde logo me cativou. Contou-me a sua (extraordinária) história, que eu ouvia maravilhada. Abriu aquela senhora mala e foi tirando papeis e comprovativos vários. Estudou Direito em Pádua e mais tarde Medicina em Lisboa. Já reformado continuou a exercer voluntáriamente ambas as profissões em instituições de obra social. Escutava com enorme atenção uma vida repleta de acontecimentos nobres. Hoje, por ironia do destino e outras vicissitudes da vida, "vagabundeia maltrapilhamente" (dixit) enquanto espera justiça e restituição de seus terrenos no Guincho. Mostrou-me cópia das últimas deligências junto dos tribunais e outros documentos testemunhando seu desespero camarário.
De vez em quando olhava em volta registando os olhares atónitos de quem nos rodeava e interrompia para me dizer que nunca esperara que "alguém como eu" parasse na rua para lhe prestar atenção ou tão pouco para falar séria e atentamente sobre tudo o que já disseramos um ao outro. Respondi-lhe que ambos já tinhamos idade suficiente para sabermos que as aparências (de facto) iludem, e que quem (apenas) vê caras, naturalmente não vê corações...!
Sorriu-me muito satisfeito e continuamos a falar. Findo o café, voltamos a subir o Chiado soalheiro e as pessoas afastavam-se para nos deixar passar, entreolhando-se pelo "contraste social" que nossas vestimentas aparentavam...
Apeteceu-me responder a cada olhar perplexo ou inquisidor:
"Pois saibam vocemecezes que quem me acompanha não é "o maltrapilho" que aos vossos olhares comezinhos aparenta ser! É uma alma nobre, profundamente culta, e para vossa informação quiçà imensamente rico (assim vingue a justiça). Vêde para lá de sua excentricidade e encontreis vós mesmos tudo o que acabei de afirmar!"
Mas continuamos a subir calmamente o Chiado e os demais olhares continuaram intrigados. De acordo com as boas maneiras (de outrora), cedia-me o interior do passeio e passagem primeira. Ainda que sempre tão discreto, como ditam as regras, não pude deixar de reparar na sua extrema educação.
Acompanhou-me até São Carlos, onde eu iria assistir a mais um recital. Aprovou a minha escolha pois também conhecia a obra clássica. Pediu-me desculpa por não me poder fazer companhia "devido ao tardar da hora", disse-me piscando o olho mas apontando sua roupagem. Pisquei-lhe o olho e beijei-lhe a mão.
Silêncio entre os dois.
"Gostaria de a convidar para um dia destes partilharmos uma refeição..." (disse-me a quanto custo).
Delicadamente rabiscou um no. de telefone onde eu poderia sempre deixar resposta.
"É que é tão difícil encontrar pessoas com quem conversar longa e descontraídamente sobre tantos assuntos..."
Já em São Carlos, ouvi o recital relembrando deliciada todos os pormenores deste encontro humano e pensei: talvez um dia destes lhe telefone mesmo e porventura fará bem aos dois continuar a conversar.