28.4.08

CASA

Vem (disse-me ele), vamos passear a pé!
Fomos. Naquela rua parou defronte a uma casa (que reconheci de imediato).
Queria mostrar-te esta casa. Sempre que passo aqui fico a olhar para ela. Gosto muito desta casa. Está desabitada. Gostas...?
Sorri-lhe eternecida, com os olhos e com os lábios.
Gosto, gosto mesmo muito até porque conheço bem o interior desta casa...(respondi-lhe, lembrando outrora)
Olhou-me curioso.
Esta casa é-me aparentada e desde miúda que aqui passei muitas e belíssimas horas. Tens bom gosto... sabes que o pátio interior, como que de uma Villa Italiana, é ainda mais lindo do que esta fachada...?
Olhava-me estupefacto mas esclareci:
Lamentavelmente, desde que essa parente faleceu nunca mais os seus herdeiros se entenderam e nunca mais esta casa foi habitada (murmurei).
Ainda atónito agarrou-me no braço e perguntou-me:
E o que é que tu estás à espera para lhes resolveres este embróglio? Poderíamos então viver juntos aqui!
Rimos os dois. Mas apenas por breves instantes, pois essa sua pergunta atingiu-me como uma dupla flecha:
- Retive que pensou/admitia vivermos juntos
- Relembrei Outrém
(olhei-o em silêncio)
Fronteira transposta, não quebrou o olhar. Seguimos caminho, lado a lado. Eu ainda em silêncio.

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