14.7.08

São Pedro: em Sintra

Sim, sim, têm de se conhecer (dizia-nos Ela), explicando porque isto e porque aquilo (continuava) e eu (confesso) sem prestar já grande importância à conversa... até que referiu o nome de um dado local... que os meus ouvidos reconheceram de imediato. Fitei-a como um raio. Apercebeu-se (mas terá percebido?). Despedimo-nos de imediato e zarpámos dali, do centro da Vila. Palmilhamos a serra, em vão. Não encontravamos onde julgavamos e eu não lembrava onde (correctamente) procurar. Tinha presente o "portal de entrada" e o azulejo pintado à mão que sabia existirem. Mas onde?!Procuravamos esta Quinta (de minha memória), sem conseguirmos. Passou mais um fim-de-semana e perguntavamos e procuravamos ainda... tentamos ver tudo, avistando do parque da Pena: toc, toc...(ouves? perguntei-Lhe)... até que, fora d'horas, alguém abandonou o posto de trabalho e já na estrada, sem mapas, corrigiu-nos a rota. Certificamos o erro por via das mesmíssimas nobres referências... Num ápice galgamos ladeiras e percorrendo o muro das residências vizinhas encontramos, enfim, o "portal de entrada"... e o dito azulejo. Entreolhamo-nos, sem quaisquer dúvidas. Respiro fundo. Momento solene. Observo detalhadamente a portada. Levanto o olhar e avisto a Cruz Templária sob a Esfera Armilar assentes no arco de pedra. Sabia que outrora passara este portal, agora selado. Forçamos a entrada mas quiçá alguém nos avista. Já era tarde mas tornaríamos ainda mais tarde. Pela calada da noite.
Voltamos à Vila, sorrindo de satisfação. Para minha surpresa, uma babilónia (à escala local) de trânsito e transeuntes. Fugiríamos dali depressa mas tinhamos fome: fomos comprar Garlic Naan Bread acabadinho de sair do forno... Devoravamos o pão enquanto caminhavamos e foi então que percebi a razão de terem (por fim) cortado o acesso ao trânsito: concerto frente ao Paço da Vila. Tínhamos pressa em sair dali mas parei e disse-Lhe que sentia que tinha de ouvir uma única música. Não estranhou. Já é hábito entre nós, essa "linguagem de pássaros". Sorriu-me. E eu sorri-Lhe de volta. Chegamos ao recinto e fomos aproximando-nos o mais possível, eu sem saber ainda ao que ia(mos)... parei a 5 metros do palco. Segundos depois começa o concerto: entra em palco de microfone em punho e dos confins da memória, and out of the blue, abre(-se-me) a noite com "Ao Fim Ao Cabo"...
(clique na foto para ampliar)

Chegado ao refrão, o foco principal de luz branca que o iluminava percorreu verticalmente seu corpo, desceu o palco e, pendularmente, criou uma "estrada luzidia" (por entre o público) até mim. Seu dedo indicador percorreu essa estrada de luz apontando até mim e sua voz cantou bem d'alto:
Ainda perplexa pela surpresa certeira, cairam-me lágrimas por comoção. Fui-me chegando ainda mais perto do palco. Ninguém ousou barrar-me o caminho.
Finda a canção olhei para trás e procurei Seus olhos entre o público. Vira-me chorar mas de novo me sorria e apontou Alguém mais além. Segui seu dedo e à distância reconheci um rosto que nos era familiar! Tocava umas campaínhas tibetanas de olhos postos no céu... Aproximei-me e lancei-me em seus braços - pasma também por esta troica pessoana reunida assim "Sob a Insígnia da Lua".
Olhei o Palácio da Pena iluminado no alto daquela serra. Por entre o negrume da noite, "ardia" envolto em forte luz rubia.
Para nós o concerto terminou aí. Atravessámos um mar de público. Felizes, estavamos mesmo muito felizes. Entramos no jeep, entreolhamo-nos... e é claro que condiziríamos agora serra acima! Assim foi. Procuravamos o que ainda tinhamos de procurar. Ninguém mais adivinharia e o jeep ajudou no resto.

Pernoitei uma vez mais em Sintra, e o que não Lhe confessei foi que acordei de repente às seis da manhã: toc, toc... (ouvia o mesmíssimo) toc, toc... Levantei-me e abri a porta do quarto. Nada. Silêncio chez nous. Todos dormiam. De volta ao quarto: toc, toc... Abri a porta da varanda: apenas vento. Voltei para dentro, aconcheguei-me na cama mas não adormeci mais...

Horas depois, saímos de Sintra rumo a Lisboa. Chegamos ao desvio para a auto-estrada e avisto ao longe um megaplacard a anunciar o concerto da noite anterior. Fixo o olhar do Luís Represas aì impresso e (tal qual o olhar da Mona Lisa) eis que me persegue fixamente independentemente do ângulo que o observei durante todo o trânsito matinal. Nem de óculos escuros consegui disfarçar, pelo que acabei por piscar o olho ao megaplacard! Tudo o mais... terá o seu devido (per)curso...