20.5.08

posturas correctas


o tempo tem uma cadência diferente durante uma (boa) aula de yoga. sempre experienciara isso. a consciência que temos do nosso corpo também é alterada: engrandecida.
respirava fundo enquanto pensava nisso pois sentia o exercitar interno dos meus membros.
em (des)hatha yoga a relacção corporal é algo de pessoal. é diferente na dança: nas aulas de coreografia (que lembrei de outrora) os corpos (entre)tocam-se em estados de consciência muito diferentes (julgo).

sua palma da mão sob minhas costas. seus dedos puxando meus dedos. elonguei os braços. fechei os olhos para testar o meu equílibrio interno. centrei-me. pausa. ainda de olhos fechados procurei sua mão para apoio extra mas encontrei seu braço. forte! segurei seu punho. firme. pausa. abri os olhos. sorria.

para além de nos cruzarmos socialmente, falavamos sempre um bocadinho depois da aula. essencialmente ouvia-o pois sabia muitíssimo do que eu ainda não sabia mas queria saber. desta vez ambos tinhamos mais tempo para continuar a conversar e verbalizei os pensamentos que tivera durante a aula. não concordou com tudo o que eu disse. tentei explicar-me melhor. contrapôs exemplificando com alguns exercícios conjuntos de yoga. achei que ainda não estava convencido. e um pas-de-deux coreografado (sugeri eu)? sorriu. levantou-se e colocou música que considerou apropriada.

de pé, frente a frente, (entre)olhamo-nos. pausa. comecou a dança. nossos corpos copiavam-se nos movimentos. aqui e ali (entre)tocavam-se. comme-il faût. segurou-me a mão. dei um salto de gazela. apoiei-me em seus braços. fortes. puxou-me para si. (entre)olhamo-nos. nossos corpos dançavam com intensa vontade. rodopiava imenso mas seus membros fortes e firmes amparavam sempre a curvatura dos meus passos de dança. elevei minha perna à altura de sua cabeça. agarrou-me o pé e obrigou-me a rodar 360º em pontas, sob o outro pé. fiz-lhe a vontade, de olhos fechados. descansou minha perna no seu braço. puxou-me bruscamente para si, de encontro ao seu corpo d'Hércules. (entre)olhamo-nos desafiadamente. suas mãos deslizaram ao longo da minha coluna. meus dedos percorreram a vitalidade de sua pele e testemunharam o fervor de seu corpo. (entre)olhamo-nos. pausa. convinced now? ;-)

quando voltei à sala encontrei-o assim sentado e de olhos fechados. beijei-o na fontaínha. abriu os olhos e sorriu-me. não seria mais meu professor de yoga (decidi nesse instante) uma vez que se quebrara uma das regras d'oiro. mea culpa mas não resisti. falaremos ainda sobre isto e muitos outros assuntos pois quero que nos continuemos a encontrar. busco no entanto um professor de hatha yoga com maior resistência mental do que a que já adquiri por mim própria, para que o respeite como Mestre.