4.4.08

passei por ti


Finda a reunião ministerial, seguíamos agora para uma recepção oficial. Ia confortávelmente sentada no carro dos seus Assessores com quem trocava impressões sobre alguns pontos da agenda (por cumprir). Referiam-se a assuntos sérios com o habitual amadorismo tuga... e tive mesmo de fazer um esforço para não interromper seus discursos reveladores de uma ignorância técnica atroz. Apesar do protocolo, falava-lhes descontraídamente. Para não me enervar(em).

O dia estava lindo e o carro atravessava a cidade como que "em velocidade cruzeiro". Recostei-me no luxuoso assento ouvindo-os enfadonhamente. Coloquei os óculos escuros para discretamente poder desviar o olhar através da janela e, melhor ainda, apreciar o Tejo ao final da tarde.

No coração da cidade, o tráfego habitual.
Conversavam amávelmente comigo, les idiots. Entretinham-me cordialmente, sem nunca terem percebido o que verdadeiramente pensei de suas infímas moleirinhas. E o carro de novo parou num semáforo.

Par hasard, olhei através da janela e incrédula verifico que pararamos mesmo ao lado do teu carro vermelho. De mãos ao volante aguardavas também o sinal verde, para seguires teu caminho.

Porta com porta, estavamos de novo sentados lado a lado. Olhei-te tão demoradamente nesses breves minutos... Reparei em pormenores faciais que nunca em ti observara, nem mesmo quando ainda mais juntos estiveramos.

Não resisti, coloquei a palma da mão no vidro da minha janela herméticamente fechada e acariciei-te a cabeça à distância dessas nossas duas janelas... Com o indicador percorri ainda os contornos do teu rosto, nariz, olhos e espessas sombrancelhas... Continuavas a olhar em frente, desconhecendo o que se estava a passar pois os vidros do meu carro eram escuros.

Caiu o sinal verde, ambos os carros arrancaram seguindo ainda lado a lado por instantes. Quando te ultrapassámos com pressa não contive uma lágrima sofrida. De lamento. Por tudo. E por (uma vez mais) pensar que estiveramos quase, quase tão perto... de afinal coisíssima nenhuma.