14.9.06

~ BERTHOLT BRECHT

" Sente-se. Está sentado? Encoste-se tranquilamente na cadeira. Deve sentir-se bem instalado e descontraído. Pode fumar. É importante que me escute com muita atenção. Ouve-me bem? Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo. Você é um idiota. Está realmente a escutar-me? Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção? Então Repito: você é um idiota. Um idiota. I como Isabel; D como Dinis; outro I como Irene; O como Orlando; T como Teodoro; A como Ana. Idiota. Por favor não me interrompa. Não deve interromper-me. Você é um idiota. Não diga nada. Não venha com evasivas. Você é um idiota. Ponto final. Aliás não sou o único a dizê-lo. A senhora sua mãe já o diz há muito tempo. Você é um idiota. Pergunte pois aos seus parentes. Se você não é um idiota... claro, a você não lho dirão, porque você se tornaria vingativo como todos os idiotas. Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota. É típico que você o negue. Isso mesmo: é típico que o Idiota negue que o é. Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um Idiota. É francamente fatigante. Como vê, preciso de dizer mais uma vez que você é um Idiota e no entanto não é desinteressante para você saber o que você é e no entanto é uma desvantagem para você não saber o que toda a gente sabe. Ah sim, acha você que tem exactamente as mesmas ideias do seu parceiro. Mas também ele é um idiota. Faça favor, não se console a dizer que há outros Idiotas: Você é um Idiota. De resto isso não é grave. É assim que você consegue chegar aos 80 anos. Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem. E então na política! Não há dinheiro que o pague. Na qualidade de Idiota você não precisa de se preocupar com mais nada. E você é Idiota. (Formidável, não acha?) "