11.7.06

~SARAMAGO

«Vivemos no paraíso da palavra inútil e da imagem que não serve para nada», num mundo onde «a santa audiência é venerada em todos os altares», desabafou o escritor.

José Saramago falava no seminário «O Júbilo da Aprendizagem:
Beatos e Bibliófilos na Pedagogia da Imagem», promovido ela Universidade Internacional Menéndez Pelayo, na localidade de Potes (Cantábria, no Norte de Espanha).

Na primeira jornada do curso, dedicada ao «Legado da Imagem», o Prémio Nobel opinou que «o Mundo está péssimo», ao ponto do ser humano não merecer a vida e ter fracassado como espécie.

Respondendo àqueles que sustentam que «estamos melhor do que antes», Saramago considera que eles confundem o ter com o ser e se esquecem que talvez tenha melhorado uma pequena minoria entre mais de seis milhões de pessoas.

O escritor português criticou o uso actual das imagens e declarou que agora se vive «numa espécie de culto à imagem como uma valor em si mesmo» e a televisão faz uma utilização «totalmente gratuita» dessas imagens, atirando-as, uma atrás da outra, «à cara» de quem olha para o ecrã, sem outro resultado que o aturdimento.

Saramago chamou a atenção para a «insensibilidade» patente quando se transmite um programa sobre a vida dos chamados «famosos» e depois, as imagens de uma bomba no Iraque ou de uma epidemia de Sida em África.

«Isto significa que tanta importância tem uma coisa como a outra», comentou o escritor, adiantando que, em nome das «santas audiências», se têm cometido muitos crimes contra a razão, contra a sensibilidade e contra o bom gosto, entre aplausos das próprias vítimas.

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Credit: Diário Digital / Lusa