25.4.06

HOMMAGE





Discurso pronunciado por Antero de Quental na noite de 27 de Maio de 1871, inserido no programa primaveril das Conferências do Casino. A finalidade deste ciclo de conferências era a reflexão sobre as condições políticas, religiosas e económicas da sociedade portuguesa no contexto europeu, porque "não podia viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo", lia-se no programa, redigido por Antero.

Na 2a. e mais célebre dessas conferências, tenta explicar as razões do atraso português (e espanhol) desde o século XVII, identificando três causas:
1) a reacção religiosa, conhecida como Contra-Reforma, consumada no Concílio de Trento e dirigida pelos Jesuítas;
2) a centralização política realizada pela monarquia absoluta, com a consequente perda das liberdades medievais,
e 3) o sistema económico criado pelos descobrimentos, de rapina guerreira, que tinha impedido o desenvolvimento de uma pequena burguesia.

A conferência sistematiza teses apresentadas há muito por Alexandre Herculano. Foi imediatamente publicada em folheto, tendo exercido posteriormente uma grande influencia, sobretudo em Oliveira Martins.
O texto de Antero de Quental, "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares", constitui um marco importante no questionar do sentido e possibilidades de Portugal no mundo, um dos temas de discussão fundamentais da Geração de 70.
Na área da literatura, a renovação manifestou-se com a introdução do realismo, em que o grande cultivador foi Eça de Queirós.


Historial Devido

O grupo dos jovens intelectuais que, nos anos sessenta, em Coimbra, participou na Questão Coimbrã e abalou o ambiente universitário daquela cidade, acabados os seus cursos, juntou-se novamente, desta vez em Lisboa. O objectivo era continuar o movimento cultural iniciado em Coimbra. Nasce assim o Cenáculo.

A partir do momento que Antero, regressado do estrangeiro (cheio de novas ideias e muitas leituras... ) passou a liderar o grupo (e sendo nesta primeira fase o seu grande mentor), a disciplina por ele imposta começou a ter os seus frutos. Resumidamente, o Cenáculo é o nome dado ao conjunto daqueles que pertenceram à Geração de 70 e aos outros pensadores que a eles se juntaram com o objectivo de discutir livremente os assuntos que os apaixonavam e prolongar em Lisboa os tempos de Coimbra ­ anos de iniciação à cultura Europeia, de fervor revolucionário, de romanesca efervescência intelectual e sentimental.

Entre eles contavam-se Antero de Quental, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Teófilo Braga, Adolfo Coelho, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Germano Meireles, Guerra Junqueiro, Guilherme de Azevedo, Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel de Arriaga e Salomão Sáragga.

Foi esta geração de jovens revolucionários que tentou trazer algo de novo e de bom à nossa cultura portuguesa. Foram por eles promovidas e assinadas as Conferências Democráticas realizadas na sala do Casino Lisbonense. Foram eles responsáveis pela tentativa de mudança e destruição de velhos conceitos.

Essas Conferências do Casino serviriam para agitar uma série de problemas que, segundo os seus autores, eram responsáveis pela decadência do país e pelo seu afastamento em relação à Europa considerada culta. As conferências eram abertas a toda a gente e não restritas aos convidados da literatura, como referiu Antero de Quental numa carta dirigida a Teófilo Braga.


Encerramento das Conferências


Como seria de esperar, o governo cedo contrariaria este novo e perigoso caminho que facilmente poderia levar ao desconhecido e ao inesperado. Os ideais defendidos pelo Estado estavam a ser atacados e em resposta o governo decidiu cancelar as conferências através da seguinte portaria:

" Tendo chegado ao conhecimento de S. M. El- Rei , por informação do governador civil de Lisboa e publicações dos jornais, que no Casino Lisbonense, no Largo da Abegoaria, desta capital, se celebram reuniões públicas, com a denominação de " conferências ", nas quais se tem feito uma série de prelecções, em que se expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do Estado; e sendo certo que tais factos, além de constituírem um abuso do direito de reunião, ofendem clara e directamente as leis do reino e o código fundamental da monarquia, que os poderes públicos têm a seu cargo manter e fazer respeitar: determina o mesmo augusto senhor, conformando-se com o parecer do conselheiro procurador geral da Coroa e Fazenda, que o Governador civil de Lisboa não consinta as referidas reuniões e conferências, tanto no local em que têm sido celebradas até agora, como em qualquer outro escolhido pelos prelectores, e que para este fim faça intimar esta resolução às pessoas que pretendem celebrar as aludidas reuniões e aos donos das casas para onde essas reuniões forem convocadas, sob pena de se proceder contra os transgressores em conformidade das leis. "

Paço, em 26 de Junho de 1871 ­ Marquês d´Ávila e de Bolama



Em consequência desta portaria, Antero entregou nos jornais o seguinte protesto:

" Em nome da liberdade de pensamento, da liberdade de reunião, bases de todo o direito público, únicas garantias da justiça social, protestamos, ainda mais contristados que indignados, contra a portaria que mandou arbitrariamente fechar a sala das Conferências Democráticas. Apelamos para a opinião pública, para a consciência liberal do país, reservando-nos a plena liberdade de respondermos a este acto de brutal violência como nos mandar a nossa consciência de homens e cidadãos. "

Lisboa, 26 de Junho de 1871 ­
Antero de Quental, Adolfo Coelho, Jaime Batalha Reis, Salomão Saragga, Eça de Queirós.


Foi esta a resposta ao encerramento das Conferências do Casino.


Nota:
post elaborado através de excertos de outros textos publicados na internet.