15.3.06

~MIGUEL DE UNAMUNO


"O solitário leva uma sociedade inteira dentro de si: o solitário é multidão.
E daqui deriva a sua sociedade.
Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros.

O génio, foi dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão.
É a multidão individualizada, e é um povo feito pessoa.

Aquele que tem mais de próprio é, no fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra o que é dos outros. (...)

O que de melhor ocorre aos homens é o que lhes ocorre quando estão sozinhos, aquilo que não se atrevem a confessar, não já ao próximo mas nem sequer, muitas vezes, a si mesmos, aquilo de que fogem, aquilo que encerram em si quando estão em puro pensamento e antes de que possa florescer em palavras.

E o solitário costuma atrever-se a expressá-lo, a deixar que isso floresça,
e assim acaba por dizer o que todos pensam quando estão sozinhos,
sem que ninguém se atreva a publicá-lo.

O solitário pensa tudo em voz alta,
e surpreende os outros dizendo-lhes o que eles pensam em voz baixa,
enquanto querem enganar-se uns aos outros,
pretendendo acreditar que pensam outra coisa,
e sem conseguir que alguém acredite."
in "Solidão"